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BC pode ‘intensificar’ uso de juros contra inflação

O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, surpreendeu o mercado ao dizer que o BC pode “intensificar o uso” da taxa Selic contra a inflação. Para analistas, a frase indica que os juros podem subir em um ritmo mais intenso, de 0,5 ponto porcentual ao mês.

Com uma frase, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton, provocou uma reviravolta no mercado financeiro ontem. Ele mudou a interpretação que os analistas haviam dado para o rumo da taxa básica de juros após lerem os 75 pará¬grafos da ata do Comitê de Po¬lítica Monetária (Copom), di¬vulgada mais cedo. A ata ser¬ve como referência dos pla¬nos do BC.

“Gostaria de registrar que cresce em mim a convicção de que o Copom poderá ser insta¬do a refletir sobre a possibilida¬de de intensificar o uso do ins¬trumento de política monetá¬ria”, afirmou Hamilton, duran¬te evento do banco Itaú BBA.

A frase que arrematou o dis curso de Hamilton surpieen deu. Para a maioria dos analis¬tas, a ata havia indicado que o ritmo de alta continuaria a ser de 0,25 ponto porcentual a cada reunião, para chegar, no máxi¬mo, a 8,25% ao ano. Na semana passada, o Copom aumentou a Selic de 7,25% para 7,5% ao ano.

A interpretação de agentes fi¬nanceiros depois da fala foi a de que os juros poderiam subir mais, no ritmo de o,5ponto por¬centual ao mês, ou por mais tempo. As taxas no mercado de juros futuros, que estavam em queda até aquele momento, pas¬saram a subir. A dúvida era se Hamilton falava por si ou pelo BC, Uma fonte do governo dis¬se que o discurso não foi mani-festação isolada.

Sem o uso de meias palavras, como costumam se pronunciar os membros do Copom, o dire-tor afirmou que a inflação está elevada, disseminada e resisten¬te. Negou, porém, que a alta dos preços vá ficar fora do controle. Até porque, disse, o BC usa a Selic para combater a inflação.

“O Banco Central dispõe – e está fazendo uso – do instru¬mento de política (a taxa de ju¬ros), que, por excelência, se des¬tina a combater a inflação, e o faz com eficácia”, apontou.

Segundo ele, a situação não é simples e o Copom não fará “escolhas erradas” ao decidir que problema enfrentar. “A escolha do comitê é o combate à inflação.” Sobre o crescimento, afir-mou que a previsão de 3,1% feita pelo BC está próxima do limite sustentável. Para ele, algo muito acima disso tende a gerar pres¬sões inflacionárias. “E por que o crescimento potencial não seria muito diferente de 3,1%? Minha resposta, decerto, está entre as menos sofisticadas: essencialmente, porque nossa taxa de in¬vestimento é baixa.” A contribuição da política monetária para que um país tenha taxas de expansão mais eleva¬das no médio e longo prazos é, conforme o diretor, a garantia de estabilidade dos preços. “E a meu ver existe só, e somente só, esse caminho.” Um dos direto¬res que votaram pelo aumento dos juros na semana passada, Hamilton também argumen¬tou que o controle da inflação não é uma panaceia, mas condi¬ção necessária, principalmente para países com histórico infla¬cionário como o Brasil, que vi¬veu uma hiperinflação no início da década de 1990.

Hamilton afirmou que o IPCA ultrapassou o limite de 6,5%, definido pelo governo, an¬tes do que indicavam as proje¬ções do BC. Ao explicar os moti¬vos para a alta da inflação, citou cinco fatores, quatro relaciona¬dos a ações recentes do gover¬no: depreciação do real, salário mínimo e políticas fiscal e mo¬netária expansionistas. O dire¬tor listou ainda os choques nos preços dos alimentos.

Ele afirmou ainda que o pior da crise externa passou e a ten¬dência é que o crescimento glo¬bal provoque alta nas cotações das commodities.

“Cresce em mim a convicção de que o Copom poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política monetária.”

Fonte: O Estado de São Paulo

 

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