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Brasil chega a seu juro mais baixo

Taxa básica tem oitavo corte seguido e cai a 8% ao ano. Para analistas, crise levará a novas reduções

A fragilidade da economia global e, com ela, a menor pressão sobre inflação no Brasil foram novamente os argumentos usados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para reduzir, pela oitava vez seguida, a taxa básica de juros (Selic). Por unanimidade, os diretores do Banco Central (BC) decidiram ontem cortar a taxa em 0,5 ponto percentual, como esperado por quase todos os analistas do mercado financeiro. Com isso, os juros, que já estavam no menor nível da História, caíram para 8% ao ano. Para os economistas, a ação do BC reforça a ideia de que, quando for preciso subir os juros no futuro, a Selic dificilmente ultrapassará a casa dos dois dígitos. No comunicado do colegiado, praticamente igual ao da reunião anterior, não foi dado nenhum sinal de que os cortes terminaram por aqui.

Com o novo corte, o juro real no Brasil, considerando a inflação prevista para os próximos 12 meses, bateu no seu menor nível histórico, de 2,3% ao ano. A taxa, segundo projeção da Cruzeiro do Sul Corretora, manteve o Brasil na terceira colocação do ranking mundial de juros reais, atrás de China (3,7%) e Rússia (3,5%).

“O Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação. O Comitê nota ainda que, até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária”, destacaram os diretores, após a reunião mais demorada do Copom (3h37m) desde agosto do ano passado.

– A sinalização do Copom já estava dada desde a reunião anterior: não há limites para a queda dos juros – disse o economista-chefe do Conselho Federal de Economia, Júlio Miragaya.

Governo economiza R$ 30 bi com dívida

Os economistas já vinham diminuindo as previsões para a taxa de juros, por causa dos sinais de fraqueza das grandes economias mundiais, do crescimento no Brasil muito aquém do esperado e da inflação que não tem oferecido riscos. No primeiro trimestre, a expansão registrada pelo país foi de apenas 0,2% frente ao último trimestre de 2011. Pesa nessa conta a hipótese de o impacto da crise mundial ser bem maior que o esperado antes. Na ata da reunião anterior do Copom – divulgada no início do mês passado – o comitê retirou a parte que previa que a crise atual só teria o tamanho de um quarto do que foi a grande turbulência de 2009.

Tanto na visão do BC quanto na da maior parte dos analistas do mercado, a desaceleração do crescimento da economia brasileira foi potencializada pela debilidade da economia global.

– Era muito difícil botar um pé no freio (nos cortes dos juros), por causa da incerteza do cenário externo – afirmou o economista da MB Associados, Sérgio Vale, que já revisou sua expectativa para os próximos cortes e aposta que o BC pode levar os juros básicos até 6,5% ao ano.

Para Miragaya, a autoridade monetária deve estacionar a Selic um pouco antes, em 7% ao ano, já que os efeitos das próximas quedas só serão sentidos no ano que vem e há muitas incertezas que atrelam o crescimento da economia brasileira cada vez mais ao comportamento do nebuloso cenário internacional. Além disso, as ações do governo para estimular a economia não têm dado muito resultado.

– Não estamos sentindo efeito de nada: nem da Selic nem da redução de impostos por causa da insegurança que o empresariado tem devido à crise – lamentou o economista. – Por outro lado, a queda da Selic dá, em tese, mais munição para o governo, que economizará entre R$ 30 bilhões e R$ 35 bilhões com juros menores sobre a dívida e pode usar esse dinheiro para investir e acelerar a economia.

Já Georges Catalão, gestor de investimentos da corretora Lecca, considera que as quedas anteriores dos juros devem começar a fazer efeito agora e a economia voltará a ganhar força. Ele mantém a aposta de juros em 7,5% ao ano e crescimento de 2% neste ano.

– Vai ser uma retomada suave e não um crescimento fantástico: o espetáculo do crescimento vai ficar para depois – alegou.

Os economistas são unânimes em dizer que, depois que a economia ganhar o que, no jargão do mercado, chamam de “tração” – no ano que vem – o BC não precisará aumentar novamente os juros para um patamar de dois dígitos para controlar a inflação. Isso porque a economia vive uma nova realidade de taxas mais civilizadas e compatíveis com o resto do mundo porque a autoridade monetária soube aproveitar a brecha dada pela crise para criar um novo patamar para o Brasil.

– Para se controlar a inflação, não é mais necessário juro de 25% e, além disso, o BC descobriu a palavrinha mágica que é “macroprudencial” – afirmou Vale, ao lembrar que a autoridade monetária tem novas armas para regular o consumo no país.

Mas a elevação será necessária, mesmo assim. Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria, diz que a alta do custo de vida “continua preocupante e obrigará o Banco Central a reverter a atual curva de juro do país”.

– O BC está mais preocupado com a atividade econômica do que com a inflação. Em 2013, porém, com certeza terá de subir o juro para controlar os preços – avaliou Jansen.

País menos atraente para estrangeiros

Para Jason Vieira, economista responsável pelo levantamento da Cruzeiro do Sul Corretora, o menor nível do juro, somado a fatores como o câmbio mais fraco, tira a atratividade das aplicações de renda fixa (que têm a Selic como base do cálculo de rentabilidade) para investidores estrangeiros.

– Os investidores já não estão mais no Brasil. E, com essa taxa, certamente não os traremos de volta. Além disso, o juro menor não melhorou a competitividade do setor produtivo, que sofre com problemas estruturais que têm a raiz em questões tributárias – disse.

A necessidade da reforma tributária é citada por outros economistas, que argumentam que a estratégia de usar a redução dos juros – estimulando o consumo interno – como mecanismo para impulsionar o crescimento do PIB terá efeito limitado enquanto perdurar a crise na Europa.

– Quando a crise europeia se resolver, estaremos com condições melhores de política monetária para estimular a economia. Mas apenas cortar a taxa, assim como está acontecendo hoje, não é tão estimulante para a economia – explicou Vale, da MB Associados.

Em nota, a Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) avalia que a redução de 0,5 ponto foi “tímida” e que a “cautela” adotada pelo BC não é mais necessária. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), no entanto, disse que a decisão do BC foi acertada e que a atual desaceleração da demanda justifica a queda nos juros. Do lado dos sindicalistas, Força Sindical e CUT também elogiaram a redução da taxa. A Força disse, em nota, esperar que o governo mantenha a política de redução da Selic como forma de combater a “especulação financeira desenfreada” que inibe a produção, o consumo e a geração de empregos.

Fonte: O Globo

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