30 de julho de 2012
O número de empresas brasileiras que exportaram no primeiro semestre deste ano é o mais baixo desde 2005. Nesses oito anos, o auge na quantidade de companhias exportadoras na primeira metade do ano foi em 2007 – antes de estourar a crise econômica mundial. Desde então, esse número registra consecutivas quedas tanto na comparação por semestre como na anual. A maior redução ocorreu em 2009, período de forte efeito da crise no Brasil, quando houve retração de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB).
E esse indicador do comércio exterior brasileiro não dá sinais de recuperação. No primeiro semestre deste ano, 352 empresas que venderam mercadorias no exterior em 2011, deixaram de exportar – uma queda de 2,25%. Por outro lado, o total de importadoras aumentou 20% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2011, percentual que representa 434 novos compradores de mercadorias no exterior. O levantamento foi feito com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Desde 2007, enquanto 1,7 mil empresas desistiram de exportar (na comparação do primeiro semestre de cada ano), um número quase sete vezes maior (11,2 mil empresas) passou a importar mercadorias.
Por depender de uma maior demanda global – o que não é esperado -, a previsão de analistas é que menos companhias brasileiras embarquem mercadorias para o exterior neste ano e também em 2013. Atento a esse movimento, o governo deve lançar em agosto o Plano Nacional de Cultura Exportadora, que já foi anunciado. A ideia é promover ações coordenadas com alguns Estados e com 14 instituições, como Banco do Brasil, bancos de desenvolvimento e Sebrae para dar suporte no mercado externo, principalmente, para pequenas e médias empresas.
“O foco será no setor de manufaturados, mas também inclui companhias da agroindústria”, disse, ao Valor, o diretor do Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comércio Exterior (Depla) do Mdic, Roberto Dantas.
De 2007 para cá as mudanças na lista de empresas nacionais exportadoras ocorreram apenas entre as menores companhias. Mesmo com a instabilidade econômica mundial, o número de empresas que venderam mais de US$ 1 milhão para o exterior, no primeiro semestre, permaneceu exatamente o mesmo – 3.253 – no período. As exportadoras menores, por outro lado, caíram de 13,6 mil para 11,9 mil entre o primeiro semestre de 2007 e o de 2012.
“A pauta de exportação do Brasil está muito concentrada em commodities e pouco em manufaturados. E quem exporta commodities são grandes grupos empresariais”, disse Soraya Rosar, gerente-executiva de negociações internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para ela, o governo deveria reduzir o custo da produção nacional, pois mesmo com o câmbio mais favorável à exportação, as empresas estão com dificuldade de conquistar o mercado externo.
Apesar da redução na quantidade de empresas que vendem, no exterior em seis anos, as exportações cresceram 60% na mesma comparação. No primeiro semestre de 2007, o país exportou US$ 73,2 bilhões. Na primeira metade desse ano, esse valor foi de US$ 117,2 bilhões. “As exportações que aumentam são as de commodities. As [exportações] industriais, que são a parte central das empresas que vendem até US$ 1 milhão ao exterior, devem continuar caindo nos próximos anos”, avalia o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Como a redução no número de exportadoras, para ele, deve continuar, “a crise externa agora é apenas mais um elemento na desaceleração das exportações brasileiras”.
Para Vale é importante que o país agregue valor a produtos da agricultura e mineração. Essa seria uma “saída para mudar esse cenário, mas aí esbarramos [nos problemas] de logística e de custo de produção”, afirma.
Para o economista da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Rodrigo Branco, o empresário deveria buscar a diferenciação do produto para atender mercados específicos, já que ele não vê, no curto prazo, medidas do governo para melhorar a competitividade das pequenas e médias companhias. “O foco agora do governo é realmente auxiliar os grandes grupos industriais a retomar a produção”, destaca o economista.
Fonte: Valor Econômico