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Salário sobe mais que desempenho na indústria

Estudo da Fiesp mostra que produtividade caiu 0,8%, enquanto salários subiram 3,4%

O aumento dos gastos com mão de obra bateu de longe a evolução da produtividade do trabalho na indústria brasileira nos últimos 12 meses. De junho de 2011 a maio deste ano, a produtividade medida pela relação entre a produção física e o número de horas pagas teve queda média de 0,8% na comparação com o período anterior, enquanto a folha de pagamento por trabalhador teve alta de 3,4% em média, já descontada a inflação.

É um sinal de que os segmentos mais afetados pelos efeitos da crise externa tendem a não dar trégua nas demissões.

Nesse período, o aumento dos gastos com a folha de salários superou em 4,2 pontos porcentuais a variação da produtividade, de acordo com estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), feito com base em dados da pesquisa industrial mensal do IBGE. Para a entidade, que reúne sindicatos patronais que negociam salários com trabalhadores, o fraco desempenho da produtividade está relacionado com o baixo dinamismo da produção.

A queda na produtividade reduz a capacidade das empresas de absorver aumentos de custos sem repassá-los aos preços. Num ambiente de concorrência acirrada com importados, muitas são levadas a reduzir margem de lucros ou fazer demissões.

A desvalorização recente do real ante o dólar até que deu um alívio ao setor na comparação direta com a concorrência dos importados. A cotação, que ficou durante muito tempo variando entre R$ 1,60 e R$ 1,75, hoje está ao redor de R$ 2. O fato é que, em dólares, o crescimento da folha de pagamentos por trabalhador foi de apenas 0,2% no período pesquisado. Nesse contexto, o ganho dos salários sobre a produtividade foi de apenas 1 ponto porcentual.

“O problema é que a melhora do câmbio veio com uma situação de agravamento da crise externa”, alega Paulo Francini, diretor do departamento de pesquisas e estudos econômicos da Fiesp. “Como todo mundo está louco para vender, pois existe uma capacidade instalada da indústria excedente no mundo, muitas vezes o fornecedor externo oferece descontos que chegam a eliminar o ganho cambial do fabricante nacional.”

Do outro lado do balcão, os sindicalistas não baixam a bandeira de luta por aumento real de salário. “O tema produtividade só reaparece na agenda das negociações, pelo lado patronal, quando é para justificar dificuldades”, diz Nelson Karan, diretor técnico em exercício do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “Nos momentos de bonança do crescimento da produtividade, os ganhos são apropriados pelas empresas, sem repassá-los para o salário dos trabalhadores e muito menos para os consumidores, na forma de redução de preços.”

O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e assessor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), lembra que a produtividade da indústria permanece estagnada há quatro anos, enquanto os salários reais só sobem, numa conta que não fecha. Para ele, não são os salários que devem ceder, mas a produtividade é que tem de ser reforçada. “Salários elevados fortalecem o mercado interno, e a indústria precisa alavancar a sua produtividade para acompanhar esse aumento de custo”, afirma o economista. Para isso, é preciso investir em novas máquinas e equipamentos e na formação e treinamento da mão de obra.

Para mudar o placar desse jogo, Francini sugere dois caminhos, ambos complicados nesse momento. Um deles seria a economia brasileira voltar a crescer de forma sustentada. O outro seria convencer os sindicatos de trabalhadores de que o momento não é adequado para eles pedirem aumento real de salário. “Se alguém conseguir convencê-los, vai ser considerado um herói”, admite o empresário.

“Está muito mais caro produzir no Brasil que nos outros países do Brics (sigla que se refere a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que se destacam como países em desenvolvimento), ou mesmo na Europa e EUA”, diz o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. “Se pegarmos a empresa mais competitiva do mundo e a pusermos no Brasil, ela imediatamente perde sua competitividade num ambiente de altos juros, alta e complexa carga tributária, alto custo da energia e falta de infraestrutura.”

Fonte: O Estado de São Paulo

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