22 de junho de 2012
Um evento de ruptura na zona do euro é praticamente inevitável. Na verdade, é necessário, pois só assim os políticos agirão para evitar o fim do euro. Esse é o cenário base do economista-chefe do banco holandês Rabobank International, um dos maiores daquele país, Jan Lambregts.
Para ele, é “muito provável” a chance de a Espanha precisar de um amplo socorro e 50% de chance de a Grécia sair do euro. Lambregts acredita, inclusive, que a bancarrota espanhola é questão de semanas.
Isso não significa, no entanto, que ele espere o pior. “Acreditamos que a zona do euro vai sobreviver, mas há claramente grandes desafios a serem enfrentados.”
Na verdade, o economista partilha a ideia de que “é preciso piorar muito antes de melhorar”. E um desses dois eventos, que na verdade estão interconectados, precipitaria a adoção de medidas mais drásticas por parte dos governantes europeus, levando a uma maior união fiscal e à criação de um eurobônus (título comum a todos os países). Sem esse evento, diz ele, os governos europeus não cederão.
“A Europa precisa estar no limite, antes de os políticos poderem voltar aos seus países e dizer: “fizemos o melhor acordo que poderia ser feito nessas circunstâncias””, disse, em entrevista ao Valor na quarta-feira.
As medidas corretivas necessárias, no entanto, têm efeitos de longo prazo. No meio da turbulência, “um minuto antes da meia-noite”, como ele diz, uma ação tempestiva também será necessária e esse papel caberá ao Banco Central Europeu (BCE), com a devida autorização dos países.
“Espero que o BCE atue com algum tipo de empréstimo ponte. Poderia, também, anunciar que não tolera, por exemplo, taxas [soberanas de dez anos] acima de 5% ao ano. Quando ele anunciar isso, será crível e ele nem precisará comprar todo o volume.”
O papel mais ativo do BCE é imprescindível também para igualar a perspectiva do euro às outras moedas fortes. “Olhando do ponto de vista do mercado de bônus soberano, países como Estados Unidos, Inglaterra e Japão se mostram mais atrativos, pois seus bancos centrais têm a prerrogativa de imprimir dinheiro, ao contrário do BCE.”
Lambregts brinca dizendo que ainda não estamos no momento “um minuto para meia-noite”. Ainda faltam cinco minutos para a meia-noite, diz ele. Para se chegar lá, momento que pode demorar meses ou semanas, ele vê dois caminhos possíveis.
O primeiro passa pela necessidade de um resgate das economias espanhola e italiana. O outro seria a saída da Grécia da zona do euro, que também levaria imediatamente para a quebra de Espanha e Itália.
No caso grego, mesmo com a possibilidade de renegociação dos acordos fechados entre a União Europeia e a Grécia, após as eleições do fim de semana (que para ele foi apenas um alívio temporário), a administração da dívida grega é insustentável.
“Se realizarmos testes mais conservadores do que os do FMI – que mostraram que a dívida chegará a 120% em 2020 – chegamos a um percentual maior, de 150%. Isso é realmente muito alto. Pra lá de insustentável. E sempre que os negociadores visitam o país, veem que as metas não foram cumpridas.”
No caso espanhol, em meio ao que as autoridades chamam de “assistência financeira” – mas ele prefere chamar de “resgate” – do sistema bancário, ninguém está realmente seguro do tamanho do “buraco”.
“A crise está se acelerando. Acreditamos que em semanas, possivelmente meses, a pressão sobre a Espanha vai requerer um resgate mais amplo, incluindo a dívida soberana. Isso será muito caro. Tão caro que vai consumir todos os fundos de resgate. E deve chegar aos portões de Roma.”
A interconectividade entre os países, e também entre os sistemas financeiros e as dívidas soberanas, está na origem do problema. “A crise é sistêmica porque a união monetária foi feita em cima de links fracos, pela falta de uma união fiscal. Os elos estão se rompendo. O elo fraco agora é a Grécia. Mas o problema não é a Grécia. Poderia ser qualquer país. O problema são os links fracos.”
Lambregts continua. “Eles até tentaram [criar uma união fiscal], mas não conseguiram. Então decidiram, de um jeito bem europeu de ser, seguir em frente com a união monetária e fazer uma reforma para incluir a união fiscal no futuro. É justamente o que está acontecendo agora. Mas ninguém imaginou que seria tão dramático e custoso.”
Ele reconhece que esse tipo de comprometimento levaria a questões de soberania. “Eles vão querer olhar sobre os ombros um do outro.” Ainda assim, é preciso a união para que se olhe para a média dos países, seja em termos de dívida, seja em termos de crescimento, completa o economista. Sem isso, as distorções entre as posições entre a Grécia e a Alemanha, por exemplo, continuarão existindo e pressionando a periferia até que os problemas cheguem ao centro, finaliza.
Fonte: Valor Econômico