04 de maio de 2012
O recuo de 0,5% da indústria na passagem de fevereiro para março, feitos os ajustes sazonais, surpreendeu e despertou dúvidas sobre uma recuperação consistente do setor e da atividade econômica este ano. A retomada da produção de veículos automotores, com avanço de 11,5% no mês, não foi suficiente para estancar a queda nos demais setores da indústria, que se espalhou por 18 dos 27 ramos de atividade analisados pela Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com o resultado ruim de março, a produção industrial encolheu 0,5% no primeiro trimestre em relação aos últimos três meses de 2011 na série dessazonalizada. Alguns analistas esperavam leve alta nessa comparação e agora estão cortando suas projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do período.
Como o cenário para o segundo trimestre ainda é de ritmo fraco, fica em xeque se as medidas de estímulo tomadas pelo governo, como incentivos fiscais e a desoneração da folha de pagamento, serão suficientes para garantir uma reação forte da indústria na segunda metade do ano. Para analistas, o primeiro trimestre afasta a possibilidade de um crescimento superior a 3% no Produto Interno Bruto (PIB) de 2011. O governo mantém 4,5% como estimativa.
“Esse resultado cria uma incerteza em relação a como a indústria vai reagir a todas essas medidas”, diz Thiago Carlos, da Link Investimentos, que deve cortar sua estimativa de 1% para a alta do PIB no primeiro trimestre. “Agora, esperamos algo entre 0,5% e 0,8%”, antecipa. A surpresa do economista com o número ruim de março veio da retração generalizada da produção, que atingiu dois terços da indústria.
Segundo Fernanda Consorte, do Santander, a queda mais preocupante é a registrada em bens intermediários, cuja produção, voltada para a própria indústria, encolheu 0,9% em março. “Isso indica que a indústria não está com força para produzir nos meses à frente, pois essa queda não vem acompanhada por importação maior desses bens”, explica.
Calculado pela LCA Consultores, o índice de difusão da indústria – ou seja, a proporção dos ramos que cresceram no mês, na série dessazonalizada – ficou em 33,3% em março, bem abaixo da média histórica de 54,3% dos últimos dez anos. Entre as quatro categorias de uso pesquisadas pelo IBGE, apenas bens de capital e duráveis expandiram a produção entre fevereiro e março, influenciados pela retomada na produção de caminhões e veículos leves.
O quadro ruim para veículos é reflexo de uma demanda menor por automóveis, em linha com o alto endividamento das famílias e maior seletividade dos bancos nesse tipo de financiamento, e da paralisação nas fábricas de caminhões após a mudança no regime de emissões, que turbinou as vendas e a produção no ano passado e teve efeito inverso no início deste ano. Dados antecedentes do setor referentes a abril sugerem que o aumento de produção em março se transformou em estoques, o que deve implicar em novo resultado fraco da produção industrial no mês passado. As vendas de veículos novos no país – entre automóveis, caminhões e ônibus – totalizaram 257,8 mil unidades em abril, queda de 10,8% sobre igual mês de 2011 e de 14,2% sobre março, segundo a Fenabrave.
Com o freio inesperado na produção em março, a LCA revisou ligeiramente, de 0,6% para 0,5%, sua projeção para a expansão do PIB no primeiro trimestre. “A produção só veio reiterar nossa expectativa de PIB fraco no início do ano”, afirma o economista Thovan Tucakov. Para 2012, a estimativa foi mantida em 3% para o PIB, apesar de os indicadores de atividade já conhecidos apontarem, segundo Tucakov, para uma alta mais modesta. A dificuldade de medir o impacto da queda de juros é um das razões para a manutenção.
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, 3% deve virar teto para as projeções de crescimento do PIB em 2012 após o dado ruim da produção. Se a atividade crescer de acordo com sua previsão de 0,6% no primeiro trimestre, calcula Vale, seria preciso um aumento médio de 2% nos próximos três trimestres para chegar aos 3,5% de avanço projetados pelo Banco Central ao fim do ano, cenário que considera improvável.
“Medidas de desoneração levam tempo para estimular a indústria e o cenário externo continua muito fraco. Tudo conspira contra a indústria”, afirma Vale. Em sua opinião, até a recente desvalorização do câmbio é um entrave ao setor, que é grande importador de insumos e não vai conseguir elevar expressivamente suas exportações com a demanda internacional reprimida. “O único elemento favorável à indústria é a política monetária”, pondera o economista.
Alexandre Andrade, da Votorantim Corretora, prevê outro ano de estagnação para a indústria, com alta de apenas 0,4% para a produção, avanço quase nulo em relação ao 0,3% de crescimento observado em 2011. O fraco desempenho esperado para o setor, segundo o analista, reforça seu cenário de crescimento modesto da atividade. Para o primeiro trimestre, a Votorantim aposta em alta de 0,6% do PIB em relação ao último trimestre do ano passado, na série livre de efeitos sazonais, com expansão de 2,9% para o PIB no ano, quase igual aos 2,7% de 2011.
Mais otimista, Fernanda, do Santander, acredita que ainda é cedo para cortar suas projeções de 3,5% para o crescimento do PIB e de 2% para a produção no ano.
Fonte: Valor Econômico