31 de agosto de 2012
A presidente Dilma Rousseff está preocupada com o ritmo dos investimentos do governo, sem os quais o PIB talvez nem cresça 3% este ano. Pode ficar em 2,5%, o que é pouco e deve ser evitado. Os investimentos privados não deram sinais de reagir, a produção industrial só recua o que já se reflete na geração de empregos formais. A reversão das medidas macroprudenciais adotadas em dezembro de 2010, e apenas afrouxadas em novembro do ano passado, parece não ter sido suficiente. E o pacote que se anuncia agora é tímido, limitando-se à indústria a automobilística.
Há críticas justificáveis sobre a concentração no incentivo à demanda interna, mas sem isso o ano estará perdido. Mais consumo e investimentos não se anulam, se complementam. É o que Dilma pede agora à equipe econômica. Mais demanda interna, mais agilidade nos investimentos do governo..
Mas e a classe média… Ela pode continuar consumindo mais. O bizarro é que o sr. Márcio Pochmann, presidente do Ipea, diz que a “nova classe média” brasileira não existe. “É uma classe trabalhadora consumista (!!!), despolitizada e com visão individualista”, diz ele. Só faltou dizer que os 94 milhões que entraram para o mercado de consumo nos últimos 10 anos, e sustentam ainda hoje o crescimento, são criminosos e egoístas, só pensam neles mesmos… E Pochmann ainda preside o Ipea! É verdade que ninguém mais liga para seus estudos, que há muito descolaram da realidade, mesmo assim, não dá…
Existe sim. Há sim, o que os teóricos de nova classe C (e haja letras no alfabeto do Ipea….), classe média ou semimédia ou o que quiserem chamar. Ela surgiu com o Plano Real do governo Fernando Henrique – um fato histórico da maior importância, no Brasil -, cresceu nos últimos dez anos. Tirou rapidamente o País da recessão.
Pode crescer mais? Sim. Levantamentos do BC e do IBGE, feitos por Denise Neumann, do Valor Econômico, mostram que essa classe que “não existe” continua consumindo, e muito. O comércio de veículos recuou no primeiro trimestre sobre o ano anterior (cresceu apenas 1%), mas vejam bem, as vendas nos supermercados aumentaram 11,9% e informática nada menos que 32%. Eletrodomésticos e móveis, 15,9%. O que está havendo, ressalta, é migração para produtos de maior valor agregado.
Mas é pouco. No entanto, só isso não basta. É preciso mais investimentos e medidas mais amplas de estímulo à industria. Isso passa por uma nova formulação do sistema tributário que agora se vislumbra. Investimentos do governo, é este o ponto fraco de um programa ainda impreciso para o qual Dilma exige uma definição da equipe econômica.
Pode investir mais? Sim. Há recursos. Só falta agilizar suas aplicações. Sem contar como programa Minha Casa, Minha Vida, que até o ano passado era classificado com “custeio” (ora, ora…). Os investimentos do governo este ano estão recuando. Em 2010, representavam 1,2% do PIB e, no ano passado, 1%. O programa habitacional menos burocratizado está salvando.
Mais desoneração? Sim. E por que não? A receita vai cair? Mas arrecadação cairá de qualquer forma se o PIB ficar em 2,5% como já preveem quase todos os analistas e até mesmo o governo começa admitir. É só uma questão e tempo. Há mais de R$ 1 trilhão para aumentar a liquidez, e, em última hipótese, reduzir o superávit primário de 3,1% para 2,9% como se fez em 2009, com grande êxito. Essa é uma tese agora posta abertamente em discussão em Brasília que foi levantada nesta coluna. Não há muito sentido impor dieta severa a um paciente faminto e desnutrido.
Sem demonização. É hora de seguir a doutrina de Keynes, “quando as circunstâncias mudam, devemos mudar também”. Para o governo, o importante agora é influenciar nas “circunstâncias”, injetar liquidez no sistema, desatravancar os investimentos e evitar o pior. Há tempo para evitar os 2,5%. E tudo indica que a presidente está convencida disso. Há seis meses preciosos pela frente.
Fonte: O Estado de São Paulo