17 de agosto de 2012
As práticas de corrupção no Brasil subtraem da economia um montante que vai de R$ 51,4 bilhões, em um cenário razoável, a R$ 84,5 bilhões, na pior das situações. Significa um desvio entre 1,38% e 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). No ranking mundial da “corrupção percebida”, um indicador estabelecido pela ONG Transparência Internacional com 180 países, o Brasil ocupa a 73ª posição, atrás de nações como Porto Rico (39º), Coreia do Sul (43º), Kuwait (54º) e Malásia, que está no 60º posto. A pontuação, que vai de 0 a 10 – com 0 indicando o pior nível – já foi de 2,7 em 1995 para o Brasil e agora está em 3,8, abaixo da média global de 2011, de 4,05.
O Índice de Percepção da Corrupção (ICP), divulgado desde 1995 pela ONG, é um indicador subjetivo, formado pela opinião de empresários e instituições. Mesmo assim, o nível de corrupção percebida do Brasil é consistente com a relação observada com o PIB per capita e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, valores baseados em dados estritamente quantitativos. O custo da corrupção pode ser entendido como sendo o montante de recursos que deixa de ser aplicado no país – seja em atividades produtivas, saúde, educação, tecnologia etc – porque é desviado para o pagamento das práticas corruptas.
O índice serve de referência para instituições como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Considerando o cenário menos corrupto, de R$ 51,4 bilhões ou 1,38% do PIB, o desvio corresponde a 7,2% do montante que o Brasil investe em máquinas, equipamentos, construção civil e infraestrutura. E 26% do que gasta em educação e 88% do que investe em pesquisa e desenvolvimento”, diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp.
Cálculos feitos por outra metodologia, pelo professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), estimam em R$ 18 bilhões o total de verbas de “uso duvidoso” em 2011. “As verbas envolvem tanto aquilo que pode ser suspeito como pode ser simplesmente incompetência, porque a Controladoria Geral da União (CGU) – de onde são extraídos os dados – investiga se o recurso do município foi bem utilizado; e às vezes é mau utilizado não por má fé, mas por incompetência. Vale lembrar que no Brasil a incompetência é realmente muito grande e não tem como separar uma coisa da outra “, diz Marcos Fernandes G. da Silva, professor e pesquisador da FGV.
Silva é autor dos livros “Ética e Economia”, “Economia Política da Corrupção no Brasil” e “Formação Econômica do Brasil: Uma Reinterpretação Contemporânea”. Nos livros, ele se vale de “vários estudos que foram sendo atualizados sobre uma mesma metodologia”. “É um exercício de engenharia econômica onde procuro calcular o custo de oportunidade do dinheiro desviado, ou seja, o que se poderia fazer em termos de investimentos em políticas públicas, por exemplo, com o recurso que foi a princípio desviado.”
Marcos Fernandes da Silva, professor da FGV, acrescenta que quando se faz o cálculo do custo de oportunidade do dinheiro “roubado” é preciso levar em conta o valor que esse dinheiro teria no futuro. “Se ele fosse investido de forma adequada em educação, em acumulação de capital, isso geraria retorno para os indivíduos e para a sociedade.”
Fonte: Valor Econômico