22 de fevereiro de 2013
Custo de vida se manterá elevado em todo o primeiro semestre, devido ao encarecimento da comida, dos serviços pessoais e das tarifas públicas. Reajustes só não são maiores por causa do fraco crescimento da economia
Os brasileiros que estão vendo o orçamento doméstico ser corroído pela disparada dos preços devem se manter em alerta. Segundo o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, a inflação continuará alta neste primeiro semestre do ano, a ponto de a instituição não conseguir levar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o centro da meta, de 4,5%, em 2013. Com isso, em três anos de governo, a presidente Dilma Rousseff não cumprirá a missão de manter o custo de vida próximo do padrão considerado ideal pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Entre os analistas de mercado, crescem as apostas de que o IPCA poderá superar os 6%, mesmo com a redução das tarifas de energia.
“Com as informações de que dispomos, não é possível acreditar em convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%, em 2013”, afirmou Hamilton. “Teremos uma alta (de preços) com certa resistência no primeiro semestre do ano, mas a tendência é de recuo no segundo”, assegurou. Nos 12 meses terminados em janeiro, o IPCA atingiu 6,15%. No mês passado, a taxa cravou 0,86%, a maior para qualquer mês em oito anos. A tendência é de que, em fevereiro, o indicador fique em torno de 0,5%, graças ao barateamento da conta de luz. Mas, segundo o diretor do BC, os brasileiros continuarão sofrendo com a alta dos preços dos alimentos, a elevação de tarifas públicas, como passagens de ônibus, e os reajustes de serviços pessoais e de empregados domésticos, por causa da correção de 9% do salário mínimo.
O aumento das passagens de ônibus, por sinal, levou o economista Felipe Queiroz, da Austin Rating, a revisar para cima a sua estimativa para o IPCA deste ano, de 5,5% para até 5,8%. Segundo ele, esse salto leva em consideração apenas a correção dos bilhetes de transporte urbano na capital de São Paulo. O reajuste deveria ter ocorrido em janeiro. Mas, a pedido do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o recém-empossado prefeito paulista, o petista Fernando Haddad, a alta acabou sendo adiada para junho. Na avaliação de Queiroz, o aumento do valor das passagens deverá oscilar entre 5% e 10%.
Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, a inflação deste ano só não será maior por causa do fraco crescimento da economia. As previsões dos especialistas apontam para avanço da atividade entre 2% e 3%, apesar de o governo insistir que a retomada é mais forte do que o mercado está vendo. “A inflação deve ficar entre 5,5% e 6%. Não há demanda forte na economia para puxar muito os preços. Mas temos que ter cuidado, pois as expectativas de reajuste estão crescendo”, assinalou.
Investimentos
Segundo o diretor do BC, além de a inflação estar sob controle, a economia está mostrando reação. A seu ver, o único ponto que se mantém frágil, mas é importantíssimo para um salto mais forte do Produto Interno Bruto (PIB), é o investimento produtivo. “Tivemos um problema de oferta no ano passado, que trouxe impacto no nível de atividade”, disse. Os investimentos estão em queda há cinco trimestres consecutivos, refletindo, sobretudo, a desconfiança do empresariado em relação à política econômica do governo. Muitos industriais temem que o Banco Central, por determinação do Palácio do Planalto, esteja sendo leniente no combate aos reajustes de preços, apostando que um pouco mais de inflação ajudará na retomada do PIB.
Hamilton refutou tal possibilidade. Para ele, o BC mantém firme o seu compromisso com o controle da inflação, ainda que o custo de vida se mantenha distante do centro da meta. “A inflação ficou dentro do intervalo de tolerância (entre 2,5% e 6,5%) nos últimos nove anos”, afirmou. Mas o que está incomodando os agentes econômicos é o fato de o Banco Central ter comprometido a sua credibilidade ao prometer reduzir mais rapidamente o custo de vida e não cumprir a promessa. A inflação atinge com mais força a população de baixa renda, justamente aquela que a presidente Dilma Rousseff disse está protegendo por meio da ampliação de programas sociais.
Recuperação
O Banco Central assegura que as informações disponíveis até agora mostram que a atividade econômica do primeiro trimestre está em sintonia com a expectativa de crescimento de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no acumulado de 12 meses terminados em setembro deste ano. Segundo o diretor de Política Econômica da instituição, Carlos Hamilton Araújo, as perspectivas apontam para uma expansão de 14% do crédito — sob a liderança dos bancos públicos — e redução dos índices de calote. Ele destacou ainda que o BC trabalha como uma menor oscilação dos preços do dólar, hoje variando entre R$ 1,95 e R$ 2.
Fonte: Correio Braziliense