16 de setembro de 2013
Economistas fazem mea-culpa sobre erro nas projeções do resultado do comércio varejista em julho
Surpreendidos com o bom desempenho do comércio em julho, que cresceu 1,9% na comparação com junho, descontado o comportamento típico das vendas no período, economistas de consultorias e de bancos fizeram ontem mea-culpa para descobrir onde erraram nas projeções.
É consenso que o erro nas estimativas ocorreu porque o impacto da desaceleração de inflação nas vendas foi subestimado. A inflação oficial do País em julho foi próxima de zero (0,03%), em comparação a 0,26% em junho.
Segundo o economista Paulo Neves, da LCA Consultores, o principal fator para o resultado do comércio varejista ter sido tão distante da projeção foi o comportamento dos preços. A consultoria previa estabilidade para o volume de vendas do comércio varejista restrito em julho, na comparação com junho. O comércio restrito não engloba as vendas de veículos e materiais de construção.
Ele argumenta que indicadores considerados nas projeções, como mercado de trabalho, vendas de papelão ondulado e movimento do comércio, estavam “decepcionantes”. Por isso, as projeções apontavam para estabilidade nas vendas. Mas o comportamento dos preços, especialmente no setor vestuário e calçados contrariou as estimativas.
O setor de vestuário e calçados foi o que registrou maior taxa de crescimento de vendas em julho na comparação com junho: 5,4%. Para Neves, o que explica esse resultado foi a deflação de 0,07% dos preços desses itens no mês, depois de uma alta de 0,39% em junho na comparação com maio. Neves calculou o deflator implícito das vendas do comércio apuradas pelo IBGE, levando em conta o volume de vendas e a receita nominal. Deflator implícito é uma espécie de inflação do setor.
“A grande surpresa veio do grupo vestuário e calçados”, afirma o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Ele diz que o frio demorou para chegar e impulsionou as vendas. De toda forma, o economista, que projetava queda de 0,10% nas vendas do varejo em julho na comparação com o mês anterior, explica que é “difícil casar o IPCA com o varejo”, porque os universos são diferentes.
Minha Casa. Outro ponto que pode ter levado as projeções de vendas do varejo ao erro foi o impacto do programa do governo Minha Casa Melhor. Por esse programa, o consumidor recebe um crédito de R$ 5 mil para comprar eletrodomésticos e móveis. As vendas desse grupo cresceram 2,6% em julho. Gonçalves diz que não é possível considerar o impacto desse crédito nas vendas do comércio.
Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica, que também projetava retração de 0,10% nas vendas de julho, acrescenta outro fator que não pode ser medido e que teria atrapalhado as projeções: a transferência de compras de junho para julho, provocada pelas manifestações de rua. Apesar das justificativas, os economistas não acreditam que esse desempenho se repita em agosto.
Inesperado
“A grande surpresa do desempenho do comércio varejista em julho veio do grupo vestuário e calçados.”
José Francisco de Lima Gonçalves
ECONOMISTA -CHEFE DO BANCO FATOR
Fonte: O Estado de São Paulo