26 de outubro de 2012
Ofuscado nos últimos anos pelos inúmeros projetos de expansão em celulose e pelas cifras bilionárias envolvidas nessa área, o mercado nacional de papéis, sobretudo para uso em embalagens, voltou a atrair atenção e investimentos. Alto potencial de crescimento – relativamente aos demais mercados mundiais – e, mais recentemente, medidas governamentais de incentivo, entre as quais a redução dos custos da energia e desoneração da folha de pagamentos, jogaram luz sobre a indústria e alimentam uma nova rodada de aportes no setor.
O mais recente movimento nessa área foi anunciado na quarta-feira à noite pela americana International Paper (IP), que vai se juntar à brasileira Jari Celulose e Papel, do grupo Orsa, em uma nova companhia de embalagens de papelão. Com investimento de R$ 952 milhões, a IP terá 75% da nova empresa e finalmente entrará nesse mercado, já no posto de terceira maior fornecedora local, com produção de 365 mil toneladas ao ano – volume equivalente a cerca de 9% do mercado nacional.
“A IP tem dois focos no mundo: embalagens e papel de imprimir e escrever. Agora estaremos nesses dois mercados também no Brasil”, disse o presidente da IP América Latina, Jean-Michel Ribieras, ao apresentar à imprensa os termos da parceria firmada com a Jari. O executivo recorreu ainda a números da consultoria independente Risi, que indicam potencial de expansão de 4% ao ano, até 2017, do mercado brasileiro de papelão, para justificar o investimento. “O consumo per capita ainda é baixo no país, o que indica que há grande potencial de crescimento.”
Atenta a esse cenário, a concorrente americana MeadWestvaco (MWV) também reforçou suas apostas no Brasil e investiu mais de R$ 800 milhões na ampliação da fábrica da Rigesa em Três Barras (SC). Com o aporte, praticamente dobrou a capacidade de produção de papel para embalagem na unidade, que chegou a 435 mil toneladas por ano. Hoje, a Rigesa é a segunda maior empresa do setor, à frente do grupo Orsa – que será substituído nessa posição pela joint venture com a IP – e atrás da líder Klabin.
A Klabin tem em curso um projeto de expansão de R$ 220 milhões em Correia Pinto (SP), porém na área de “sack kraft”, utilizado na produção de sacos industriais. A companhia anunciou ainda a intenção de investir em outra máquina de papel reciclado em Angatuba (SP), projeto que poderia consumir R$ 350 milhões, e o início de estudos para expandir a produção de papel-cartão.
A joint venture entre IP e Jari também nasce com planos de ampliação de capacidade, inicialmente eliminando os atuais gargalos de produção. “Vamos crescer organicamente. Há boas oportunidades internas de melhoria”, adiantou Ribieras, ao ser questionado sobre os planos de investimento nos ativos que serão aportados pela Jari na nova companhia.
Pelos termos acertados, a Jari vai transferir para a nova empresa, cujo nome ainda não foi definido, três fábricas de papelão para embalagens e quatro unidades de produção de caixas de papelão ondulado. Além disso, cederá sua carteira de clientes, que conta com cerca de 400 nomes.
De acordo com o empresário Sergio Amoroso, do grupo Orsa, ainda não há decisão sobre futuras expansões. Porém, a partir de 2015, já haverá disponibilidade de madeira própria suficiente para dobrar a capacidade de produção e ultrapassar as 750 mil toneladas anuais.
O comando da nova empresa ficará em São Paulo e deverá ser formado por executivos das duas companhias, conforme Ribieras. Segundo o presidente da IP, a entrada no mercado de embalagens ampliará em 50% os negócios da companhia no país. A expectativa é a de que a operação, resultado de cerca de um ano e meio de visitas e tratativas, seja concluída no primeiro trimestre do ano que vem, diante da necessidade de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Em relação à duplicação da fábrica de papel da IP em Três Lagoas (MS), Ribieras afirmou que a previsão é a de que a nova máquina de papel de imprimir e escrever comece a operar entre 2016 e 2018. A nova linha terá capacidade de produção de até 250 mil toneladas ao ano e pode consumir investimentos de US$ 350 milhões. Hoje, a IP produz 230 mil toneladas na unidade.
A nova data para expansão, contou Ribieras, foi definida em acordo com a Fibria, que fornece a celulose branqueada de eucalipto consumida pela IP em Três Lagoas. As duas empresas têm um contrato de fornecimento de matéria-prima de 90 anos e haviam acertado, inicialmente, que uma decisão relativa à expansão da fábrica de papel teria de ser tomada até janeiro de 2013. Esse segundo acordo foi estendido e a nova máquina poderá entrar em operação até 2018.
Fonte: Valor Econômico