02 de setembro de 2013
As empresas brasileiras estão preparadas para enfrentar os solavancos do câmbio. Os recursos disponíveis em caixa e aplicações financeiras são suficientes para honrar os compromissos de curto prazo – em dólares ou reais. O impacto da desvalorização será limitado. Levantamento feito pelo Valor com base nos dados de 95 companhias abertas mostra que a dívida em moeda estrangeira representa, em média, apenas 20% dos empréstimos que vencem até junho de 2014. A capacidade financeira cobre 112% de todas as dívidas do período.
O dólar promete causar novos estragos nos balanços das empresas brasileiras no terceiro trimestre, por conta da correção das dívidas em moeda estrangeira pelo câmbio depreciado. Mas o impacto no caixa será limitado. Levantamento elaborado pelo Valor com base nos dados de 95 companhias abertas mostra que a dívida em moeda estrangeira representa, em média, apenas 20% dos empréstimos que vencem até junho.
Nessas empresas, os recursos disponíveis em caixa e aplicações financeiras são suficientes para honrar, em média, 112% de compromissos financeiros de curto prazo – sejam em dólares ou reais. Os números foram obtidos na base de dados da consultoria Economática e consideram empresas que divulgaram a composição cambial dos passivos e reportaram dívidas de curto prazo em moeda estrangeira no segundo trimestre.
Os especialistas são unânimes em afirmar que as empresas brasileiras estão preparadas para enfrentar o cenário de maior volatilidade cambial e que não há risco sistêmico na exposição da dívida em dólar. “A “farra” das emissões externas, quando os estrangeiros compravam dívida brasileira a qualquer preço, acabou. E até mesmo o mercado interno está mais seletivo na concessão de empréstimos”, afirma o diretor da Fitch Ratings, Ricardo Carvalho.
O endividamento das empresas cobertas pela agência de classificação de risco vem aumentando nos últimos anos. A relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) passou de uma média de 2,2 vezes em 2008 para 2,9 vezes em 2012. A expectativa é que, neste ano, fomentada pelo câmbio, a taxa supere a casa de 3 vezes.
A boa notícia é que as empresas têm um colchão de liquidez para enfrentar cenários de instáveis como o atual. Segundo Carvalho, a relação entre a posição de caixa e os empréstimos que vencem em até um ano ficou estável nos últimos cinco anos, em 1,3 vez. “Apesar de estarem mais endividadas, as companhias têm conseguido gerar resultados e alongar as dívidas”, explica o diretor da Fitch.
César Costa, sócio da consultoria de gestão financeira Capitânia, afirma que a mudança de estratégia das companhias brasileiras para fazer frente ao câmbio mais caro e instável ocorreu de forma mais acentuada no segundo trimestre do ano passado, quando o dólar saiu da casa de R$ 1,80 e alcançou os R$ 2. “De forma geral, as empresas já tinham ajustado as estratégias de hedge, alongado as dívidas em dólar ou trocado por empréstimos no mercado interno.”
A Restoque, dona da varejista de moda Le Lis Blanc, é um exemplo. Emitiu R$ 150 milhões em debêntures e quitou US$ 30 milhões em dívidas com bancos estrangeiros no começo do ano. Na mesma linha, a fabricante de vagões ferroviários e rodas automotivas Iochpe-Maxion captou R$ 1,24 bilhão no mercado interno para pagar um empréstimo de US$ 645 milhões contraído para financiar aquisições no exterior.
Na amostra analisada pelo Valor, a maior parte das empresas com exposição à dívida em dólar no curto prazo tem perfil exportador ou trabalha com preços balizados pelo dólar no mercado interno. Já as companhias voltadas ao mercado doméstico que tem empréstimos de curto prazo na em dólar têm posições de caixa relativamente confortáveis.
A beneficiadora de cobre Paranapanema tem 100% de suas dívidas de curto prazo em moeda americana, concentrada em linhas de capital de giro, mas opera com custos e receitas em dólar. Ainda assim quer esticar o endividamento para evitar problemas de liquidez. “O plano é buscar mecanismos de alongamento dessa dívida, com linhas de prazo superior a um ano”, afirma o presidente, Edson Monteiro.
A Companhia Providência, que atua no segmento de não tecidos, utilizados na fabricação de fraldas e absorventes, também tem exposição elevada da dívida de curto prazo ao dólar: 72%. Mas afirma que seu modelo de negócios suporta esse endividamento, na medida em que as receitas provenientes de uma unidade nos Estados Unidos e de exportações a partir da planta no Brasil servem como “hedge natural”.
Para administrar o risco cambial, a empresa conta com uma equipe que avalia sua proteção financeira. O comitê, que se reúne mensalmente, mede a exposição cambial resultante das contas a receber e dos valores a pagar com dívidas e insumo e define as estratégias de hedge para não ficar com o cobertor curto no caixa.
Com o aperfeiçoamento das políticas de gestão de risco, as empresas vem fazendo ajustes finos em suas estratégias de hedge, afirma Norberto Zaiet, vice-presidente do banco Pine. Segundo ele, companhias exportadoras e expostas ao mercado de commodities já montaram suas posições de hedge para o dólar mais caro no ano passado já estão fechando estratégias para 2014.
Fonte: Valor Econômico