01 de fevereiro de 2013
A longa demora do governo para reajustar os preços dos combustíveis mostrou claramente a preocupação da equipe econômica com os impactos generalizados da medida sobre a inflação oficial, aferida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O predomínio dos veículos automotores no transporte de pessoas e de mercadorias faz os novos custos se refletirem em praticamente toda a produção e nos serviços. Os aumentos de 5,4% para o diesel e de 6,6% para a gasolina, em vigor nas refinarias desde quarta-feira, chegaram após meses de expectativa e de indicadores gerais do custo de vida já em alta. O temor, agora, é com o seu efeito cascata.
O costume de repassar imediatamente as altas da gasolina e do diesel a consumidores e empresas é antigo, e seus estragos se disseminam rapidamente. Prova disso é que o controlador da estatal, a União, autorizou as refinarias a aumentar o preço da gasolina, mas o bolso do consumidor sentiu imediatamente, antes de os estoques acabarem nos postos. Mesmo com o corte de 18% na tarifa de energia residencial, a alta do IPCA deverá ser de até 1%, devido à correção maior dos combustíveis. O governo esperava elevação média de 4,4%, porém, a correção chegou a até 10%.
Segundo especialistas, considerando que o peso da gasolina dentro do IPCA é de 3,89%, isso deve provocar um impacto total na inflação de janeiro de 0,16 a 0,2 ponto percentual. Eles lembraram que, com um indicador geral rodando em torno de 6% ao ano, essa pressão a mais é preocupante. Não à toa, há quatro semanas consecutivas, as previsões para o IPCA de 2013 só aumentam. Os especialistas também estão pessimistas em relação ao balanço de 2012 da Petrobras, que será conhecido na próxima segunda-feira. Ontem, as ações da empresa voltaram a cair: 0,65%, as ordinárias, e 0,66%, as preferenciais.
Fretes
A NTC&Logística, associação que reúne as principais transportadoras, estima que o diesel tenha peso de 40% nos custos do frete agropecuário. Nas contas da consultoria, o reajuste de 5,4% no preço do combustível elevará em 2,16% o custo do carregamento de produtos agrícolas, em um momento em que o setor já se prepara para enfrentar gastos elevados com transporte rodoviário para escoar uma safra recorde de grãos. Para o transporte rodoviário em geral, o impacto no frete será de 1,52%, uma vez que, na média da frota brasileira de caminhões, o diesel representa 30% dos custos operacionais.
A Petrobras, que vem amargando prejuízos por ser usada pelo governo como instrumento de combate à inflação, ainda recebe na refinaria menos da metade do que é pago pelos motoristas por um litro de gasolina na bomba. Dos R$ 2,63 por litro vendido em São Paulo na terceira semana de janeiro, só R$ 1,25 foram para as refinarias da empresa, estimou o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom). Além de 36% de impostos, o Brasil sofre com custos de distribuição e de revenda, que respondem por 18% do valor total — o dobro dos Estados Unidos.
Fonte: Correio Braziliense