10 de maio de 2013
De olho em um dos maiores entraves ao crescimento – a falta de produtividade da economia – a expectativa do governo é que a participação dos investimentos em inovação tecnológica dobrem, chegando a 2% do Produto Interno Bruto (PIB), e isso “para ontem”, diz João De Negri, diretor de inovação da Finep, a principal fonte de financiamento do setor. Está nas mãos da agência executar, até 2014, a maior parte dos R$ 32,9 bilhões do programa que é o carro-chefe do governo para o segmento, o Plano Inova Empresa.
O volume disponível de recursos nunca foi tão alto, mas aspectos estruturais, como a perda de força da indústria da transformação, e burocráticos, incluindo o acesso a esses recursos, atrapalham. O Brasil investe R$ 50 bilhões ao ano em inovação ou 1,1% do PIB (60% disso investido pelo governo e 40% pelas empresas), segundo dados mais recentes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O percentual coloca o país em uma posição intermediária, à frente de seus pares latino-americanos, mas ainda distante da média dos países da OCDE, que investem 2,4% do PIB em inovação.
O caminho para chegar lá pode ser sinuoso. A indústria da transformação, que vem perdendo participação na economia, responde hoje por nada menos do que 70% dos gastos em pesquisa e desenvolvimento feitos por empresas. “Se nada for feito, o Brasil vai continuar nas posições intermediárias com relação à inovação”, afirma Carlos Eduardo Calmanovici, presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadores, a Anpei.
Investir no Brasil custa caro – em inovação, ainda mais, dizem os críticos. “Mão de obra, infraestrutura, impostos, tudo isso compõe uma cesta de custos que impacta a atividade em geral e particularmente os gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), que exigem equipamento sofisticado e mão de obra qualificada”, diz Calmanovici.
O processo longo e complexo para acessar os recursos também é apontado como um entrave, assim como as garantias exigidas para obtenção dos empréstimos.
“Uma pequena empresa tem dificuldade de oferecer garantias e uma start-up [empresa de pequeno porte] não tem garantia nenhuma a oferecer”, afirma Paulo Moll, diretor de inovação do MEI – Mobilização Empresarial pela Inovação, articulada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). E a questão não se restringe às pequenas. Uma fonte do setor afirma que já participou de uma reunião com uma gigante do ramo de alimentos e bebidas que encontrou dificuldades nas exigências de garantia para conseguir o financiamento.
Moll diz também que a agenda de inovação no Brasil ainda tem um perfil muito acadêmico, em contraposição à tendência global, claramente empresarial. “Se você encontrar um pesquisador americano a pergunta básica é em que empresa ele trabalha. No Brasil, a pergunta vai ser em que universidade ele dá aula”, diz. Para Moll, esse descompasso tem feito com que boa parte do conhecimento acabe gerando “papers” e não patentes. “Ao se produzir pesquisa, o caminho mais acertado seria questionar se ela tem potencial de mercado, se vai reduzir custos, gerar renda e a empresa e aumentar a produtividade”.
A favor das iniciativas mais recentes, Moll diz que o marco legal de inovação tem apresentado melhorias, como a criação de órgãos como a Embrapii, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, bastante focada nas demandas empresariais.
Edgard Dutra Júnior, diretor da fabricante de compressores de ar e acessórios Metalplan – empresa cuja necessidade de investir em inovação é constante – concorda. Para ele, os recursos oferecidos pelo governo ao setor são abundantes e as exigências mais flexíveis, ainda que insuficientes. A Metalplan, contudo, financia seus projetos em inovação geralmente com recursos próprios, em razão, especialmente, dos prazos ainda curtos dos financiamentos públicos. “Em pesquisa e inovação se joga muito dinheiro fora. Então, é preciso um volume razoável de recursos, financiamentos longos, de 20 anos, e taxas de juros baixas para que o empresário use esses recursos em inovação e não para folha de pagamento ou décimo terceiro salário”.
De Negri, diretor da Finep, reconhece os entraves, mas diz que o governo oferece hoje às iniciativas inovativas instrumentos muito similares aos oferecidos por países desenvolvidos. No mundo, diz ele, cerca de 50% dos investimentos privados em P&D são financiados pelo setor público, com recursos subvencionados, enquanto, no Brasil, menos de 10% dessas atividades são financiadas de forma subvencionada. Atenta aos gargalos, a Finep modificou todos os procedimentos internos de tal forma que, a partir de julho deste ano, o prazo para que o empresário saiba se o seu projeto é enquadrável no plano Inova Empresa cai para 30 dias.
Para Calmanovici, fica cada vez mais claro ao governo, empresas e comunidade científica que não há como conferir competitividade estrutural ao negócio sem passar por inovação tecnológica. “Pode-se adquirir competitividade com a eliminação de um imposto, mas é circunstancial. Inovação é avanço efetivo, é competitividade na veia”.
Fonte: Valor Econômico