19 de abril de 2013
A reação do mercado à suave elevação da taxa Selic para 7,5% foi cristalina – a maior queda nas taxas de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) desde 1º de setembro de 2011, quando o Banco Central parou de elevar e começou a reduzir os juros. O juro real de curto prazo, calculado pela diferença entre o rendimento dos contratos de swap de 360 dias e a inflação projetada para 12 meses, caiu de 2,77% para 2,41%. O volume de negócios foi quase quatro vezes superior à média diária, em um sinal de que a maioria errou a aposta ao interpretar frases do presidente do BC, Alexandre Tombini, como sinal de um ajuste de 0,5 ponto percentual.
A reação do mercado à decisão do Comitê de Política Monetária do BC de elevar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 7,50%, ao invés de optar por um ajuste mais forte, de 0,50 ponto, foi clara: houve a maior queda nas taxas de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) desde 1º de setembro de 2011 – justamente a data em que o Banco Central surpreendera o mercado, pela última vez, cortando a taxa básica de juros.
O volume de negócios na BM&F ontem foi quase quatro vezes superior à média diária. Sinal de que a maioria errou a aposta, numa posição que foi construída na sexta-feira passada, quando o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse estar acompanhando “atentamente” todos os indicadores. A frase foi interpretada, erroneamente, como aviso de que a dose do remédio seria mais forte.
Para uma parte do mercado, o fato de o Copom frustar tantas estimativas tem custos: a incerteza dos analistas aumentou ao invés de diminuir. “A decisão traz mais incertezas no curto prazo, aumenta a volatilidade e falha ao tentar ancorar as deterioradas expectativas de inflação”, disse o estrategista chefe da Icap Brasil, Gabriel Gersztein.
A taxa do contrato DI com vencimento em maio de 2013 caiu de 7,39% para 7,26%. O DI de janeiro de 2014, o mais líquido do dia, recuou de 8,20% para 7,83%.
Na BM&F, as taxas dos contratos de curto prazo caíram mais intensamente que as de longo prazo. Assim, a diferença entre as taxas dos contratos DI com prazo em janeiro de 2014 e o DI de janeiro de 2017, por exemplo, subiu a 1,17 ponto, de 0,93 ponto na véspera. No mercado de juros, maior demanda por um prêmio significa um maior grau de incerteza.
Outro sintoma desse maior grau de incerteza está no comportamento do juro real de curto prazo, que caiu ao invés de aumentar. A taxa calculada pela diferença entre o rendimento dos contratos de swap de 360 dias e a inflação projetada para 12 meses cedeu a 2,41%, ante 2,77% no dia anterior.
Mas o cenário para a inflação piorou, como mostra a taxa projetada pelos negócios com a Nota do Tesouro Nacional Série B (NTN-B), papel atrelado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No papel com vencimento em 2015, a estimativa de inflação implícita subiu a 5,406%, ante 5,248% anteontem.
“Todo mundo sabe que esse é um ciclo para controlar expectativas, e a leitura que ficou é que o BC agiu empurrado pelo mercado, e não com a intenção de perseguir uma meta de inflação”, disse o diretor da Nomura Securities, Tony Volpon.
O economista do HSBC, Constantin Jancsó, apontou que a opção do BC por um ajuste da Selic em 0,25 ponto não será suficiente para ancorar as expectativas de inflação entre os agentes econômicos.
Para o banco Fator, o ritmo da atividade vai ser determinante para o ciclo de juros a ser implementado pelo Banco Central. Embora tenha optado por manter a projeção de uma Selic subindo 150 pontos básicos, indo a 8,75% neste ano, o economista-chefe do Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, afirma que o ritmo desse aperto vai depender, em última instância, do andamento da atividade econômica. “A escolha de ritmo mais lento deve implicar ajuste para cima na curva de juros, por força de eventual atraso da trajetória indicada e cuja confirmação fica para a leitura da ata na próxima quinta-feira”, diz Lima Gonçalves.
Já o economista do Credit Suisse, Nilson Teixeira, enxergou fatores que justifiquem uma postura mais cautelosa do BC: os dados recentes de atividade no país e a deterioração recente da percepção de risco global elevam a probabilidade de o crescimento brasileiro ser inferior à previsão atual, além do risco de a inflação pelo IPCA ser inferior à projeção do próprio banco, de 5,6% – caso ocorra uma redução mais significativa de alimentos in natura, em conjunto com uma maior redução dos preços de commodities no mercado internacional ou mais desonerações tributárias.
“A autoridade monetária ganha flexibilidade para suas próximas decisões, inclusive para interromper o ciclo, se o cenário assim o demandar”, afirma o diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros. Flexibilidade que começa a ser testada hoje, quando o IBGE revela a prévia do IPCA de abril.
Fonte: Valor Econômico