24 de setembro de 2013
Com a desistência das cinco maiores empresas de energia do mundo no campo de Libra, representantes de China, Malásia e Japão surgem entre os favoritos no leilão. Especialistas dizem que modelo de exploração do petróleo escolhido pelo Brasil é pouco interessante.
Cinco das maiores empresas globais de exploração de petróleo decidiram ficar de fora da disputa no leilão de Libra, a 183 km do litoral fluminense, a maior jazida descoberta até agora no pré-sal, com estimativas que variam entre 8 e 12 bilhões de barris — o restante das reservas do país soma 15,3 bilhões.
Pagaram a taxa de adesão de R$ 2 milhões para participar da licitação, marcada para 21 de outubro, 11 empresas, das quais seis são estatais e cinco privadas. Seis das possíveis candidatas são integral ou parcialmente asiáticas. Ficaram de fora as norte-americanas Exxon Mobil e Chevron, a norueguesa Statoil e as britânicas BP e BG.
A lista das empresas inscritas inclui, além da Petrobras, as chinesas CNOOC International Limited e China National Petroleum Corporation; a colombiana Ecopetrol; a japonesa Mitsui & CO; a indiana ONGC Videsh; a portuguesa Petrogal; a malaia Petronas; a sino-espanhola Repsol/Sinopec; a anglo-holandesa Shell; e a francesa Total.
“Estou até surpreso de que essas 11 empresas tenham se apresentado”, comentou o geólogo Hernani Chaves, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Na avaliação dele, o modelo escolhido pelo governo para a operação de Libra é pouco atraente para o setor privado. “O grande interesse das estatais nesse leilão não é ter lucro, é aumentar as reservas a serem usadas por seus países”, explicou Chaves. Vários analistas apontam para o interesse geopolítico, sobretudo dos governos da China e da Índia, ao buscar a garantia do fornecimento de petróleo com o leilão de Libra.
Para o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, da Costa Global Consultoria, o principal desestímulo ao mercado é o fato de que a estatal será a operadora em Libra e terá no mínimo 30% do consórcio vencedor.
Em comunicado divulgado ontem à noite, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) destacou que, das 11 empresas candidatas, sete pertencem ao grupo de 11 petroleiras com maior valor de mercado no mundo, segundo ranking da consultoria PFC Energy.
Baixo interesse
Mesmo assim, o resultado causou frustração. A diretora-geral da agência, Magda Chambriard, disse que esperava até 40 empresas na concorrência. “Existe um contexto mundial e situações específicas que levam a isso (baixo interesse)”, justificou. “Eu recebi telefonemas de três empresas, Exxon, BP e BG, dizendo que não vão participar do leilão por questões particulares de cada uma. No entanto, elas reafirmaram o interesse no Brasil”, disse.
Sindicalistas e alguns parlamentares defendem que, diante da certeza de que há petróleo em Libra, a área deveria ser entregue totalmente à Petrobras. O modelo escolhido pelo governo, porém, tem outros objetivos, como atrair capital externo e garantir a maior arrecadação possível. O vencedor do leilão terá de pagar R$ 15 bilhões imediatamente, como bônus de assinatura do contrato — dinheiro que já entrou na estimativa de cumprimento da meta de superavit primário.
Ao menos 30% do bônus será desembolsado pela Petrobras, o equivalente à sua participação mínima no consórcio. As empresas candidatas farão ainda uma oferta de lucratividade ao governo. Isso não poderia ser barganhado se a concessão ficasse com a estatal brasileira.
A presidente da Petrobras, Graça Foster, admitiu na quarta-feira, no Senado, a impossibilidade de explorar Libra com exclusividade. “Temos todas as condições técnicas e operacionais, até porque descobrimos, desenvolvemos e conhecemos a fundo toda aquela área. Mas a empreitada se tornou economicamente impossível nas atuais condições de caixa da companhia”, afirmou.
O presidente da BG no Brasil, Nelson Silva, disse ao Correio, recentemente, que considerava Libra pouco atraente para a companhia porque já existem muitas informações disponíveis sobre as reservas. “Quando há incerteza, são maiores as possibilidades de ganho”, explicou.
O vice-presidente de Relações Públicas da Statoil, Mauro Andrade, atribuiu o baixo interesse do mercado à demora de cinco anos nas discussões sobre as regras para a exploração do pré-sal — nesse processo, optou-se pelo modelo de partilha em vez da concessão, que vale para outras áreas oferecidas pela ANP ao mercado. “O Brasil ficou muito tempo sem rodadas de licitação e as empresas acabaram se comprometendo com investimentos em outros países”, disse Andrade, ontem, em evento na PUC-Rio.
A ANP calcula em R$ 400 bilhões os investimentos necessários em Libra ao longo dos 35 anos de concessão. Para o professor Chaves, da UERJ, não será fácil tirar lucro do campo. Ele estima que, durante ao menos oito anos, não será possível extrair uma única gota de óleo. Provavelmente a produção começará somente em 10 anos, e atingirá o pico de 1 milhão de barris por dia dois anos mais tarde.
BNDES dá fôlego a Eike
A empresa de logística LLX, do grupo de EBX, de Eike Batista, informou ontem que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) renovou, por três anos, o empréstimo-ponte de R$ 518 milhões concedido à companhia. “Os recursos estão sendo utilizados para financiar as obras civis relativas ao aterro hidráulico, dragagem e construção do quebra-mar, bem como os demais investimentos relativos ao projeto de implantação do Superporto do Açu, localizado no município de São João da Barra”, informou a empresa. Segundo a LLX, a rolagem do contrato de financiamento, realizado com a subsidiária LLX Açu, contribui para o alongamento do prazo médio de seu endividamento. Os juros serão pagos anualmente.
Fonte: Correio Braziliense