01 de fevereiro de 2013
Atrasos nos pagamentos da estatal deixam vários parceiros no vermelho. Renegociação das dívidas servirá para apoiar investimentos de US$ 200 bilhões
As medidas adotadas pela Petrobras para tentar conter prejuízos acumulados desde o ano passado, sobretudo em razão da defasagem que perdurava nos preços dos combustíveis, levaram alguns dos seus fornecedores à beira do colapso financeiro. Pagamentos em atraso e uma ampla revisão de contratos deixaram no vermelho os balanços de prestadores de serviços.
A construtora GDK, de Salvador, obteve no mês passado o direito de abrir processo de recuperação judicial, alegando dificuldades financeiras geradas por sucessivos bloqueios nos pagamentos que deveriam ser feitos pela Petrobras. Com isso, apenas com a Previdência, os débitos da empresa chegaram a R$ 16 milhões, impedindo-a de participar de novas empreitadas federais. Em nota, a GDK afirma que continuará cumprindo seus contratos “conforme a determinação original”, e que “tem absoluta certeza de que a reestruturação em curso permitirá a superação das dificuldades momentâneas”.
Em situação mais grave, a também baiana Tenace Engenharia, pediu falência no fim do ano passado, após discutir uma série de acréscimos nos contratos com a Petrobras. A empresa enviou comunicado aos credores responsabilizando a falta de diálogo com a estatal pela crise. A companhia afirma que empregava 3 mil funcionários e tinha 25 contratos, avaliados em R$ 800 milhões, dos quais 90% com empresas do sistema Petrobras.
Para suportar o descompasso de caixa gerado, “a Tenace foi obrigada a fazer diversos empréstimos em instituições financeiras, mediante altas taxas de juros, o que aumentou ainda mais seu endividamento”, informou a empresa. Ela tinha um grande contrato de construção de uma unidade de gasolina e diesel no Polo de Guamaré (RN). Também prestava serviços para a estatal em Urucu (AM).
A construtora mineira Egesa, responsável por parte das obras de uma unidade de fertilizantes da Petrobras, também anunciou recentemente aos seus funcionários e credores que “está passando por uma reestruturação financeira em função do cenário econômico atual”. Para a fornecedora Lupatech, de Caxias do Sul (RS), a maior perda se deu na negociação de seus títulos no mercado financeiro.
R$ 40 bi em caixa
O programa de ajustes no caixa da Petrobras, anunciado em dezembro pela presidente da estatal, Maria das Graças Foster, busca cortar R$ 32 bilhões em despesas no período de 2013 a 2016. O esforço é uma resposta da diretoria executiva aos mais de R$ 17 bilhões acumulados em prejuízos na área de combustíveis nos nove primeiros meses de 2012. O montante economizado com renegociações com cadeias de fornecedores e eliminação de desperdícios servirá também para apoiar investimentos de US$ 200 bilhões em cinco anos.
Após a divulgação do plano, a agência norte-americana de classificação de risco Moody’s baixou há um mês a nota da dívida da Petrobras para negativo, temendo mais calotes. Um fato que reforçou essa preocupação foi o aumento da inadimplência de cinco fundos de investimentos dedicados às parceiras da estatal. Os pagamentos deixados em aberto saltaram de R$ 11,6 milhões, em setembro, para R$ 18,4 milhões, em 31 de dezembro, equivalente a 58,6% de acréscimo, informou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os fundos emprestam às contratadas tendo como garantia os créditos que elas têm com a estatal.
A Petrobras negou que esteja atrasando pagamentos a fornecedores e a prestadores de serviços. Em nota, a empresa assegurou que “os pagamentos dos compromissos reconhecidos são realizados de acordo com os prazos estabelecidos contratualmente”. A estatal destacou ainda que “não enfrenta problemas de caixa, cujo saldo ultrapassa R$ 40 bilhões”. Lembrou também que eventuais pleitos de pagamentos adicionais aos contratados são submetidos a avaliações técnica — por uma comissão especial — e jurídica.
» Mais gás importado
O Ministério de Minas e Energia autorizou ontem a Petrobras a continuar importando gás natural liquefeito (GNL) para atender à demanda de gás natural do país. O volume de importação é 40 milhões de metros cúbicos e o gás deverá ser entregue no Terminal Marítimo da Baía de Guanabara (RJ) ou no Terminal Marítimo do Porto de Pecém (CE), onde também estão localizadas estações do GNL. A autorização tem validade de dois anos e a estatal terá que apresentar à Agência Nacional do Petróleo (ANP) relatórios detalhados sobre as operações de importação.
Fonte: Correio Braziliense