22 de novembro de 2021
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Taxa do BNDES, TLP atinge pico de 3,8%
A TLP, taxa de juros de referência para os empréstimos do BNDES, atingiu em novembro a marca recorde de 3,83% ao ano, além da correção pela inflação medida pelo IPCA. O valor da parcela fixa é mais que o dobro do 1,64% verificado em igual mês do ano passado, que ainda tinha um contexto inflacionário bem menos complicado do que o atual. Desde agosto deste ano, ela tem operado acima de 3%, o que antes disso havia ocorrido apenas em quatro meses.
POSICIONAMENTO ABIPLAST
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, em reportagem ao VALOR ECONÔMICO de hoje (22/11), afirmou que quadro de encarecimento do crédito do BNDES prejudica principalmente as empresas de médio e pequeno porte.
Segundo Roriz, com o advento da TLP, as empresas grandes de fato migraram para tomar crédito nos bancos privados e no mercado de capitais, mas as de médio e menor porte ainda precisam muito do banco e os custos estão proibitivos.
Ele diz que, com os spreads (prêmios) colocados pelos bancos repassadores do BNDES, os juros finais estão chegando na casa de 20% ao ano.
“As empresas médias e pequenas não estão tendo acesso a crédito competitivo nos bancos e muito menos no BNDES. Quem é que vai comprar uma máquina com taxa de 20% em uma perspectiva dessa de inflação e juros altos e diminuição de renda da população?”, questiona.
“A mudança para a TLP não atingiu seu objetivo e as grandes empresas continuam tendo vantagem”, disse, afirmando que este tema foi discutido entre os empresários industriais que viajaram recentemente para Dubai, onde esteve o presidente, Jair Bolsonaro, e parte de sua equipe.
HISTÓRICO
Criada em 2017 e com início efetivo em 2018, o objetivo da TLP é atrelar os custos dos financiamentos para investimentos do banco estatal às taxas de juros de mercado com prazo de cinco anos.
As taxas das NTN-Bs dispararam nos últimos meses, reflexo das incertezas que tomaram conta do mercado por conta das discussões fiscais entre governo e Congresso, além de um movimento mais forte por parte do Banco Central de alta na taxa básica de juros para combater a inflação, o que afeta toda a estrutura de juros do mercado.
DESESTIMULANTE AO INVESTIMENTO
Para o professor de economia da Universidade Federal do ABC Fábio Terra, a escalada na TLP é “absolutamente desestimulante ao investimento”. Segundo ele, à alta na principal referência para o crédito no BNDES soma-se o aumento do “custo de oportunidade” dos investimentos, dado pela taxa Selic, o que leva as empresas a adiarem seus projetos.
Além disso, explica, a aproximação do ano eleitoral e toda incerteza envolvida sobre os rumos do país a partir de 2023 reforçam o cenário negativo para os projetos de aumento de capacidade produtiva ou renovação das plantas e maquinários das empresas.
Terra aponta que o quadro atual está gerando uma situação na qual o custo dela está refletindo não só a política monetária, como queriam seus criadores para aumentar a potência de atuação do BC, mas também incorporando todo o risco fiscal que o mercado financeiro está precificando.
“Ela não está refletindo as condições da política monetária”, reforçou, apontando que esse é mais um elemento a sinalizar um quadro negativo para a economia brasileira à frente.
POSICIONAMENTO DO BNDES
O BNDES afirmou que os empréstimos da instituição seguem em alta, mesmo com a elevação da taxa. Para tanto, porém, fez referência a dados do terceiro trimestre, sem mencionar o custo recorde atual.
“A TLP acompanha o movimento dos títulos públicos com prazo de vencimento de cinco anos, que vêm sendo impactado pelo aumento da taxa básica de juros da economia. Apesar disso, o volume de contratação e aprovação dos empréstimos do banco seguem com tendência positiva, como apresentado na divulgação do resultado do terceiro trimestre de 2021”, disse o banco.
Fonte: VALOR ECONÔMICO
https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/11/22/taxa-do-bndes-tlp-atinge-pico-de-38.ghtml