07 de dezembro de 2012
Documento justifica a interrupção da queda na Selic e encoraja previsões de mais reduções na taxa no ano que vem
O Banco Central mostrou mais uma vez que está confortável com a alta da inflação no curto prazo, provocada em parte pelo recente avanço do dólar, e que sua perspectiva é de redução do índice oficial de preços ao nível de 4,5% até 2014.
Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, divulgada ontem, o BC insistiu que atingirá a meta ainda que de forma “não linear”. O documento justifica a interrupção do ciclo de queda da taxa de juros, mantida em 7,25% ao ano.
A ata encorajou algumas instituições financeiras a cortarem suas projeções para a Selic no ano que vem. O estopim das mudanças foi o fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, mas analistas queriam se certificar de que, ao ler o documento do BC, não encontrariam obstáculos para a retomada de queda da Selic.
A decisão pela manutenção dos juros da autarquia foi tomada dois dias antes da divulgação da expansão pífia de 0,6% da economia brasileira.
Na última reunião do Copom de 2012, os diretores decidiram adequar a cotação do dólar usada em seus cálculos para níveis mais próximos aos do mercado financeiro. Com isso, substituiu a taxa de R$ 2,05 pela de R$ 2,10, causando impacto direto na projeção para o IPCA deste ano.
O BC não revela o resultado de seus cálculos. Diz apenas que a expectativa para a inflação de 2012 ficou ainda mais distante da meta. Para 2013, a previsão para o IPCA não sofreu alteração desde a reunião de outubro, mas segue acima de 4,5%. Apenas em 2014 é que o índice cederá, pelas projeções do Comitê, para um nível mais próximo da meta.
“Isso contraria a avaliação de muitos analistas de que a inflação não convergiria para a meta nem no longo prazo. Com isso, o BC está dizendo ao mercado: senta que o leão é manso”, disse o economista-chefe do Besi Brasil, Jankiel Santos. Se a ata fosse escrita ontem, na avaliação do economista-chefe do Banco Sicredi, Alexandre Barbosa, mostraria o BC um pouco mais preocupado com atividade e inflação, pois os indicadores mais recentes mostraram piora desde o final da semana passada.
Para o Barclays, a divulgação do PIB altera significativamente o cenário. A instituição aposta em duas reduções de 0,5 ponto porcentual da Selic no primeiro trimestre de 2013. O primeiro corte viria já em janeiro.
“A surpresa negativa no PIB do terceiro trimestre deste ano pode reduzir as projeções de inflação dos atuais patamares e abrir espaço, na visão do Copom, para medidas de estímulos adicionais”, avaliou o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn. Ele prevê que a Selic que deve fechar 2013 em 6,25%.
Pesquisa do serviço “AE Projeções” após a divulgação da ata, com 37 instituições do mercado financeiro, mostra que 8 delas apostam em queda da Selic, enquanto 24 esperam estabilidade e 5 preveem alta.
Fonte: O Estado de São Paulo