26 de outubro de 2012
O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, fez há dois dias seu segundo discurso mais longo do ano, no qual defendeu com grande vigor que o sistema de metas de inflação é o principal arcabouço que o BC dispõe para levar o IPCA ao objetivo de 4,5%.
Na avaliação da professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Monica Baumgarten de Bolle, esse pronunciamento foi muito importante e tenta passar à sociedade a mensagem de que o BC tem pleno domínio da política monetária e vai usá-la para elevar os juros se for necessário. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Que mensagens Tombini quis passar aos agentes econômicos? O discurso foi feito para muitos empresários. Houve uma apreensão elevada do governo com a falta de resposta do investimento no País, apesar de todas as medidas oficiais de estímulo à atividade adotadas. Na minha visão, há uma grande preocupação do BC de tentar atenuar qualquer incerteza sobre a condução da política econômica.
De que o BC não estaria comprometido com o sistema de metas de inflação?
Exato. Enfatizar que a política monetária no Brasil não mudou. Diante das alterações que ocorreram no mundo, havia algum desconforto de vários especialistas de que o BC estaria usando instrumentos um pouco diferentes para moderar o nível de atividade, como as medidas macroprudenciais, que servem no fundo para dar um aperto na concessão de crédito. O discurso de Tombini tinha o objetivo de dizer o seguinte: o nosso instrumento continua o mesmo. Ou seja, o instrumento principal para administrar o nível de atividade são os juros.
Com esse discurso, Tombini deseja coordenar melhor as expectativas da inflação para 2013, que estão em 5,42%?
Certamente, essa intenção também é muito relevante. Há uma outra questão importante abordada pelo BC que é a convergência não linear para a meta de 4,5%. Por outro lado, não faz nenhuma consideração sobre o quão importante é chegar rápido à meta. O que ele diz é que conseguimos em todos os anos o cumprimento da meta. Tombini está certo quando sinaliza isso. Para mim, o BC sinaliza que até tolera oscilações da inflação acima do centro da meta, mas está comprometido em não deixar o IPCA superar o teto de 6,5%.
Tombini afirmou que a desvalorização cambial no primeiro semestre “impactou a inflação, em particular o segmento de bens comercializáveis”. O que ele quis dizer com isso?
Acho que o BC está dizendo que temos que tomar cuidado com a desvalorização, porque isso tem reflexos sobre a inflação no Brasil. No início do ano, uma parte dessa desvalorização do câmbio teve a ver com o cenário mundial, mas também com as intervenções muito pesadas pelo ministério da Fazenda. Isso secou o mercado de câmbio e provocou efeitos sobre os preços. Contudo, o BC sinaliza, no fundo, que estamos com intervenções um pouco maiores no mercado de câmbio porque a conjuntura mundial exige, mas é temporário.
Como fica a trajetória de juros pelo BC até o fim de 2013?
Desde que a inflação fique ao redor de 5,5%, a tendência do BC é manter os juros parados em 7,25%.
Fonte: O Estado de São Paulo