21 de setembro de 2012
Sob concorrência de gás dos Estados Unidos e sem sócio privado, Comperj, um dos destaques do PAC, pode virar apenas uma refinaria
Com a finalidade petroquímica definida no nome, o Comperj corre o risco de funcionar somente como refinaria. Embora o projeto original do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro preveja a operação de unidades de fabricação de diversos produtos petroquímicos, a Petrobrás não conseguiu ainda parcerias na iniciativa privada, como forma de dividir custos bilionários. O acordo com a gigante Braskem, anunciado há dois anos, ainda não avançou.
Uma das principais razões do pouco interesse do empresariado é a dificuldade de concorrer com a indústria sediada nos Estados Unidos.
A tecnologia de extração do gás do xisto com emprego de tecnologia barata derrubou o preço da energia no território norte-americano, o que beneficiou em demasia os setores que dependem muito dela, como o petroquímico.
A Braskem busca nos Estados Unidos oportunidades geradas pelo shale gas (como o gás de xisto é conhecido internacionalmente). Também investe no México e em unidades locais – este ano, em Alagoas (PVC) e Rio Grande do Sul (butadieno). Mas do Comperj, até agora, mantém-se afastada, embora tenha firmado com a Petrobrás, em 2010, um acordo de associação ao projeto.
A possibilidade real de encolhimento do Comperj é discutida reservadamente na Petrobrás e na cúpula do governo do Estado do Rio, que teme não alcançar a arrecadação prevista quando do lançamento do grande polo de atividades de refino e petroquímicas. Há uma constatação de que o desenvolvimento da tecnologia do gás de xisto ameaça inviabilizar projetos petroquímicos nacionais.
No Rio, o que era para ser um megaempreendimento da indústria de óleo e gás – agrupando refino, petroquímicas de primeira e segunda geração e incentivando a instalação de indústrias plásticas – pode limitar-se a uma refinaria.
O custo do Comperj é avaliados por especialistas do setor em cerca de US$ 20 bilhões, quantia não confirmada pela Petrobrás. Oficialmente, a petroleira informa, em resposta a questionário enviado pelo Estado, que o projeto original está mantido.
“O Comperj será constituído de um complexo industrial de refino e petroquímica associados”, diz a petroleira. Isoladamente, o projeto é o maior da Petrobrás e foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como uma das mais vultosas obras do governo federal.
Atraso. A construção do Comperj começou há quatro anos e meio, mas as unidades petroquímicas ainda não saíram do papel. Os serviços neste segmento resumiram-se à conclusão da terraplanagem.
De acordo com a Petrobrás, “as próximas etapas de construção das unidades petroquímicas dependem da finalização do detalhamento do projeto, a cargo da Braskem”.
Na diretoria da petroleira, no caso de o acordo com a Braskem seguir adiante, é consenso de que apenas em 2014 as obras da área petroquímica deverão começar.
“Os contratos entre a Petrobrás e a Braskem relativos ao Comperj estão em negociação, conforme cronograma interno das partes, e serão tornados públicos tão logo sejam firmados”, acrescentou a companhia.
Sem abordar a situação do Comperj, a presidente da Petrobrás, Graça Foster, em audiência pública no Senado na terça-feira passada, manifestou em público temor em relação ao futuro da indústria petroquímica brasileira. Para ela, o valor baixo do gás natural no mercado dos Estados Unidos atrapalha a expansão da nossa petroquímica.
“Nos Estados Unidos, o preço do gás é muito baixo. Por mais que o aumento da produção seja alto, o preço final é reduzido quase a custo”, afirmou Graça.
Ela ressaltou que custos mais baixos podem levar a petroquímica para os Estados Unidos.
“Me preocupa o desenvolvimento da petroquímica (brasileira)”, disse a executiva.
Preocupação semelhante foi expressada pelo presidente da Braskem, Carlos Fadigas, em 14 de agosto passado, ao falar sobre os resultados negativos da empresa no segundo trimestre do ano. Na ocasião, ele disse que novos projetos (casos do Comperj e da fábrica de polipropileno verde) serão revistos.
No trimestre, a Braskem apresentou prejuízo líquido de R$ 1,03 bilhão, ante lucro de R$ 420 milhões em igual período do ano passado.
“O cenário econômico atual deixará mais criteriosos os aportes da empresa. Com isso, a agenda de investimentos terá que ser readequada com base nessa análise que estamos fazendo. Essa nova postura significa que a lista de projetos da Braskem será menor. Alguns projetos deixarão de ser feitos”, disse Fadigas.
Procurado pelo Estado, a Braskem não quis fazer comentário a respeito de sua participação no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.
O projeto original do Comperj previa que a entrada em operação aconteceria em 2011. Atrasos sucessivos empurraram a inauguração da primeira unidade de refino (produção máxima de 165 mil barris diários de derivados de petróleo) para abril de 2015, prazo que ainda poderá ser dilatado.
A segunda unidade de refino (300 mil barris por dia) está prevista para janeiro de 2018. A refinaria fabricará diesel, nafta, diesel, querosene de aviação, coque, GLP e óleo combustível.
Fonte: O Estado de São Paulo