25 de maio de 2012
Novos sinais de uma desaceleração mundial estão turvando o cenário econômico. Ontem, indicadores da confiança do empresariado na Europa caíram e sondagens com gerentes de compras de indústrias no mundo todo resultaram negativas. Entre estas, a China, segunda maior economia do planeta, registrou a sétima queda consecutiva em um importante indicador da atividade manufatureira. Os Estados Unidos divulgaram que empresas vêm cortando encomendas de computadores, aviões, produtos metalúrgicos e outros bens duráveis.
Com essa última leva de dados, surge um novo temor entre economistas e governantes: o de que a atividade econômica esteja arrefecendo em sincronia no mundo todo, e não só num punhado de mercados devido a problemas isolados. A Europa – que luta com o risco da saída da Grécia da zona do euro e problemas fiscais maiores – é, no momento, o epicentro da crise mundial. Mas relatos de problemas econômicos já surgem na Índia, na África do Sul, no Brasil e em outros lugares.
Quando a economia mundial vai bem, o crescimento sincronizado se reforça sozinho e espalha prosperidade por todo canto. Mas o desaquecimento também pode ser interligado e ser seu próprio combustível. De fato, nos quatro anos desde a crise financeira de 2008, a economia mundial tem sido vítima desse fenômeno.
As notícias econômicas ruins significam, por sua vez, que o investidor está sentindo diretamente o baque. O índice mundial das bolsas MSCI, que reflete mercados ao redor do mundo, teve queda de mais de 9% de meados de março para cá.
“Praticamente todos os setores industriais nos quais atuamos (…) estão fracos”, disse Gary Hendrickson, diretor-presidente da fabricante americana de tintas Valspar, sediada em Minneapolis, durante conversa com analistas de mercado na quarta-feira sobre a recente experiência da empresa na China. A Valspar registrou um salto de 36% no lucro no começo do mês, mas decepcionou analistas com as projeções para o resto do ano, o que derrubou a cotação da ação.
Na África do Sul, a atividade mineradora também sofre com a diminuição da demanda por certas commodities. A Lonmin, terceira maior produtora de platina do mundo, avisou este mês que pode reduzir investimentos nas minas na África do Sul porque a demanda pelo metal está fraca. Em março, inesperadamente, a produção industrial do país caiu 2,7%, informou este mês a agência de estatísticas do governo.
A indiana Infosys, que presta serviços terceirizados, divulgou queda de 1,9% na sua receita em dólar no trimestre encerrado em março, a primeira queda trimestral desde 2009. No ano fiscal corrente, a empresa projeta um crescimento de um dígito apenas, baixo para o seu padrão. S.D. Shibulal, diretor-presidente da Infosys, afirmou no mês passado que muitos clientes americanos do setor financeiro estão tomando decisões de gastos mês a mês – e não para o ano todo. A queda nos investimentos em tecnologia é uma preocupação.
Nos EUA, novos pedidos de computadores e artigos correlatos caíram 3,1% em abril, em relação ao mês anterior; em março, já tinham recuado 3,7%, segundo dados do Departamento de Comércio americano divulgados ontem. De modo geral, os novos pedidos subiram 0,2% em abril, depois da queda de 3,7% em março. Mas pedidos de bens de capital (tirando o setor de defesa e aeronaves), uma estatística muito monitorada que indicaria a intenção de gasto das empresas, caíram 1,9% em abril, após recuo de 2,2% em março.
A californiana Informatica, que produz software de integração de dados para empresas, já registra queda nas vendas na Europa – especialmente no setor público, disse seu diretor-presidente, Sohaib Abbasi, num congresso do setor esta semana. No primeiro trimestre do ano passado, a empresa fechou dois acordos de US$ 1 milhão com governos europeus. No primeiro trimestre deste ano, nenhum, disse ele.
No primeiro trimestre, a receita obtida com vendas para governos europeus representou 1% do total – abaixo da média de 3% a 5%, disse Abbasi. “As medidas de austeridade tiveram impacto”. Ainda assim, a empresa vem registrando crescimento na casa dos dois dígitos em outras regiões, incluindo América Latina e Oceania.
Ontem foi divulgado o mais recente indicador do fraco desempenho da economia chinesa: o índice de gerentes de compra do HSBC, que caiu de 49,3 em abril para uma prévia de 48,7 em maio. É sinal de que o ritmo da atividade industrial recuou pelo sétimo mês consecutivo. Uma leitura inferior a 50 indica contração do setor; acima de 50, expansão. O índice de gerentes de compra de maio se segue a uma leva de resultados fracos em abril – do comércio exterior à concessão de crédito nos bancos.
Em resposta, Pequim optou por uma série de iniciativas em várias áreas que, espera, promovam o crescimento e complementem sua campanha de longo prazo para torná-la uma economia fortalecida por mais consumo, inovação e atividade da iniciativa privada.
A China parece decidida a ampliar a reforma fiscal iniciada no início do ano em Xangai, onde certas atividades de serviços migraram para um imposto sobre valor agregado, o que representou uma expressiva desoneração sobre o setor. É provável que o sistema seja adotado em Pequim já no começo de julho – e no país todo no prazo de dois anos, disse ao “The Wall Street Journal” Lachlan Wolfers, sócio da área tributária da KPMG China. A KPMG vem trabalhando com o governo na reforma.
Separadamente, o ministério da Indústria e da Tecnologia da Informação do país soltou ontem um comunicado pedindo o fim de encargos administrativos aplicados a pequenas empresas, bem como de uma série de multas e taxas impostas por órgãos de governos locais, uma das principais queixas de empresas menores.
Antes, na quarta-feira, o Conselho de Estado da China, a suprema instância do executivo, prometeu reformas fiscais estruturais para aliviar a carga sobre empresas nacionais – mas sem dar detalhes. Autoridades vão encorajar investimentos privados em setores como o ferroviário, de energia e de telecomunicações, disse. O Conselho também prometeu apoiar o uso de energia solar e outras novas tecnologias energéticas, e acelerar o desenvolvimento de cabos de fibra óptica para residências.
Alguns analistas acreditam em uma ação governamental conjunta maior por parte das autoridades chinesas, se a retomada crescimento não ocorrer.
“Se não houver logo uma retomada do crédito e dos investimentos, a pressão para que o Estado comece a gastar vai ser forte”, disse Mark Williams, economista da firma de pesquisa de mercado Capital Economics, em um nota. “A perspectiva de que a economia assuma em breve uma base mais sustentável, mais fundada no consumo, ainda parece remota.”
Fonte: Valor Econômico