30 de setembro de 2021
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A crise energética da China, que provocou uma forte alta nos preços de commodities como petróleo, gás natural e carvão, vai afetar diretamente a indústria química brasileira, diz a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). É o que apontam duas reportagens do Valor Econômico, desta semana, fazendo análises sobre o setor.
A seguir os principais pontos:
Metade da demanda da indústria química é importada
O dólar e commodities formam tempestade perfeita para o setor químico. Cerca de metade do fornecimento de insumos vem da importação e boa parte vem da China. Segundo o presidente-executivo da Abiquim, Ciro Marino, cerca de 50% da demanda da indústria química brasileira é importada e boa parte disso vem da China.
Ele alerta que a crise de recursos naturais no país asiático era prevista, uma vez que a indústria chinesa pode estar chegando ao ponto de exaurir recursos. “Eles são finitos. Já antecipávamos o que aconteceria lá, e tivemos um complicador na pandemia, com uma desorganização gigante de suprimentos no mundo.”
Marino avalia que a China é o maior desafio que o mundo tem de enfrentar, já que tem a maior indústria global, com um faturamento três vezes acima dos Estados Unidos – de US$ 1,5 trilhão – e enfrenta problemas com energia, falta de insumos e questões logísticas.
Indisponibilidade de matéria-prima global
“Não existe hoje, no mundo, uma indústria que opere de forma confortável com a disponibilidade de matéria-prima”, acrescenta.
O executivo da Abiquim pondera que, apesar da disparada dos preços das commodities ontem, o cenário da indústria química já enfrentava dificuldades, principalmente, com a falta de insumos e problemas domésticos, como a crise hídrica que deverá afetar a distribuição de energia elétrica.
Crise de energia no Brasil e no mundo afeta indústria do plástico
A crise de energia global também pega em cheio a indústria de plástico brasileira. A China é um grande produtor de polipropileno e de plásticos de engenharia. Laercio Gonçalves, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast), explica que o setor é movido, em grande parte, pelo dólar, petróleo e pelo mercado internacional, e que uma pressão nos preços dos três afeta diretamente a indústria.
“Com a parada de petroquímicas no ano passado, já faz alguns meses que há um choque de oferta no mercado doméstico e os preços ficaram caros na pandemia”, diz. A crise energética na China traz mais um elemento de preocupação, já que a indústria brasileira de plástico depende muito de produtos do país.
Indústria química: sem condições de competir
A falta de insumos está levando a indústria a trocar componentes como o polietileno por polietileno tereftalato, mais conhecido como PET, que também subiu muito de preço.
A indústria química brasileira, fornecedora de matérias-primas para produtos usados na área da saúde – além de provedora de diversos setores, da construção civil ao automotivo, passando pelo alimentício, eletrônico, farmacêutico, saneamento e outros –, viu a pandemia de Covid-19 desnudar sua relevância estratégica e seus desafios.
Sexto no ranking mundial, o parque químico nacional sofre com altos custos dos insumos e tributos
Sexto colocado no ranking mundial, o parque químico nacional vem sofrendo há anos com os altos custos dos insumos e tributos, somados à desindustrialização do país. Resultado: perda de competitividade, crescimento da produção inferior ao da demanda, 71% de ocupação da capacidade atualmente e uma inundação de importados, que já são 46% do total consumido internamente.
Setor se mobiliza para defender Política Indústrial de longo prazo
Especialistas apontam para a necessidade de uma política industrial, com visão estratégica e de longo prazo para deslanchar novos investimentos em aumento de capacidade, desenvolvimento de tecnologia e inovação, ampliando a competitividade e a inserção global do setor. A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) está engajada, nos próximos anos, numa agenda para convencer os formuladores de políticas públicas da necessidade de uma política de Estado para o setor.
96% dos segmentos industriais dependem do setor químico
“Quase todos os segmentos industriais (96% deles) são dependentes do setor químico, e os custos elevados na base tornam a indústria brasileira como todo pouco competitiva”, alerta o presidente da entidade, Ciro Marino. Ele diz que o setor pode, em 20 anos, recuperar o que perdeu nas últimas décadas com a globalização, dobrando de tamanho e subindo para a quarta posição no ranking mundial.
Para isso, precisa atrair investimentos. A tarefa já tem meio caminho andado: o Brasil oferece acesso a matérias-primas como petróleo e gás natural, além de minérios e água, mas espera condições “ótimas” o quanto antes. Entre elas, estão a aprovação de uma reforma tributária em bloco, e não fatiada, até o fim do ano, a maturação da nova Lei do Gás – que tem estimativa de reduzir o preço do insumo – e o desenvolvimento do marco regulatório do saneamento. Este último pode trazer R$ 1 trilhão em negócios para o país, gerando oportunidades para o setor químico, fornecedor de materiais para tubulações e tratamento de água, como resinas plásticas e cloro, entre outros.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/09/29/dolar-e-commodities-formam-tempestade-perfeita-para-o-setor-quimico.ghtmlhttps://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/09/29/industria-quimica-sem-condicoes-de-competir.ghtml